As pessoas mudam. Como as empresas são o resultado das pessoas que trabalham nelas, elas precisam acompanhar o processo evolutivo dos talentos que as tornam viáveis. Isso parece bastante lógico, mas a velocidade das transformações provocadas pela pandemia fez com que o assunto "employee experience" ganhasse muito mais atenção.
Por isso, no episódio 5 do Projeto Upload focamos a nossa atenção para o relacionamento entre empresa e colaborador, sobre as expectativas de um em relação ao outro e sobre as novas perspectivas que se abriram recentemente.
As conversas durante as gravações reforçaram a minha convicção de que as pessoas estão cada vez mais criteriosas sobre como, onde e com quem querem compartilhar seu tempo, seu talento e suas habilidades. Por isso, a questão da cultura que existe em cada empresa é determinante para que ela seja atraente para os melhores talentos.
Mas, o que faz uma cultura corporativa ser atraente? A resposta mais curta é: ser people centred. Muito se fala no mercado sobre a importância de "colocar o consumidor no centro de todas as ações" e isso já se tornou ponto pacífico para o que a empresa entrega para o mercado. Entretanto, da porta para dentro da empresa, é preciso que ela coloque os seus talentos no centro das suas ações. Afinal, é isso que vai permitir que a empresa seja capaz de entregar seu produto ou serviço da melhor forma. E essa mudança de abordagem já está acontecendo.
Segundo a CEO da WeWork, Claudia Woods, a pandemia foi um catalisador de mudança nas empresas. "Antes as empresas pediam posições de trabalho, hoje as demandas mudaram", diz a executiva que chamou a atenção que até 2020, o Brasil era um grande exportador de talentos. Hoje, o cenário está mais fluido e a questão de fronteiras deixou de ser fundamental para viver a vida corporativa com plenitude. "Hoje a pessoa pode morar em Jericoacora, fazer kite-surfing de manhã e trabalhar na Holanda à tarde", destaca a Claudia sobre a superação da limitação geográfica que muitos profissionais podem experimentar hoje.
Dados do IBGE mostram que durante a pandemia 11% dos brasileiros fizeram home-office, o que equivale a 8,1 milhões de pessoas vivendo uma outra experiência no mundo do trabalho. E isso mudou a cabeça das pessoas e também das empresas. Pesquisa recente mostrou que 60% dos empregados priorizam a volta ao escritório, enquanto 31% preferem home office.
Frederico Lacerda, co-fundador & CEO da Pin People | Employee Experience Software (HIRING!), é categórico ao dizer que acredita que as organizações que não atentarem às mudanças e não fizerem um investimento proativo na área de pessoas, elas vão ter cada vez mais desafios em atrair, engajar e reter talentos e, com isso, correm o risco de desaparecer em cinco ou dez anos.
Hoje as pessoas querem ser consideradas na sua integralidade. Ou seja, o trabalho é prioridade enquanto trabalho, mas não deve passar por cima das experiências humanas a que todos temos direito e que fazem parte da rotina, como o horário de almoço das crianças ou a consulta médica de um parente idoso. Dani Junco, fundadora da B2Mamy, único hub de inovação focado em tornar mães e mulheres líderes e livres economicamente por meio de educação, pesquisa e comunidade, chama atenção para o fato de que ter vida pessoal não pode ser um problema.
Antes, a mentalidade era que a vida deveria se encaixar no trabalho. A pandemia mostrou que é o trabalho que precisa ser encaixado na vida. No auge da crise da Covid, 95% dos trabalhadores nos Estados Unidos consideraram deixar os empregos que tinham. Hoje as pessoas querem ter flexibilidade para conciliar o pessoal e o profissional.
Mais do que nunca, é preciso ter a postura ativa de buscar a construção coletiva da cultura da empresa. E a liberdade de poder ser o que é é o primeiro passo, mas há outros mais sutis. Viviane Filipini, da Bayer, chama a atenção para o fato de que a cultura da empresa deve estar baseada em segurança psicológica para que as pessoas possam falar o que pensam e desejam. Por exemplo, uma colaboradora deve se sentir à vontade em avisar que não vai ao escritório porque está acompanhando a filha pequena na adaptação à escola. Esse é um momento único e merece ser acolhido pela empresa.
A evolução das empresas em relação à experiência dos colaboradores vem evoluindo em tempo recorde, mas ainda há grandes contrastes. Enquanto algumas empresas ainda estão conversando sobre o trabalho híbrido, outras já adotaram a semana de quatro dias – claro que quando isso é aplicável em termos de produtividade. E há as companhias que simplesmente voltaram às atividades como eram antes da pandemia: em tempo integral e presencial. E está tudo bem. Cada empresa sabe o que é melhor para si e para o seu time. Mas vale advertir que as empresas que têm uma boa Experiência do Empregado melhoram em 7 vezes a reputação da marca, têm 40% menos desligamento de funcionários, 2 vezes mais receita e 7 vezes mais capacidade de inovar.
Vale observar também que, dentro de um cenário em que os profissionais, especialmente os das gerações Y e Z, buscam fórmulas de trabalho inovadoras, as empresas que quiserem atrair e reter esses talentos precisam se mover rápido para conquistar os melhores profissionais. E isso é ganho de competitividade.
Por isso é importante destacar que ser people centric, além de ser parte do DNA das empresas inovadoras, pode ser o fator que vai evitar que empresas tradicionais declinem em competitividade. Fica muito claro que o assunto Employee Experience deixou de estar preso na sala do RH e foi para a pauta das lideranças empresariais.
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